A compreensão sobre Open Finance evoluiu muito no último ano no Brasil. Entre as lições aprendidas talvez a maior delas seja o entendimento mais claro do real impacto do Open Finance na sociedade e na vida das pessoas. Esta cada vez mais claro que o modelo é bem mais amplo do que originalmente debatido e estruturado para o modelo Open Banking. O Open Finance é mais complexo do que o Open Banking original, que começou no Brasil inspirado nos modelos abertos (ou Open Banking) de outras juridições tais como Australia e Reino Unido(UK) e que tiverem foco inicial no compartilhamento de Dados de Clientes e iniciação de Pagamentos. O Open Finance mudará decisivamente a forma como originamos e obtemos crédito ou mesmo distribuímos e contratamos produtos de Seguros, seja para pessoas físicas ou para pequenas e médias empresas. E cada vez mais fica claro para todos os participantes do ecossistema financeiro que a única maneira de realmente compreender e medir esse impacto é conectar o trabalho e as expectativas geradas com o Open Finance às demandas e “dores” reais dos clientes, assim como suas aspirações e demandas concretas atreladas ao consumo de serviços financeiros.
Outro ponto de atenção especial é quando mudamos o foco para os reais beneficiários do Open Finance. O mercado tende a associar os benefícios do modelo diretamente às pessoas físicas, o que é natural já que avançamos muito nos últimos anos em termos de banco de varejo, fintechs, neobanks e bancos digitais, ao estimular a competição e entregar melhores serviços e experiências para este perfil de consumidor. Mas e quanto as pequenas e médias empresas (ou PMEs)? Quais os reais benefícios do modelo Open Finance para este público? O período de pandemia do coranovirus reforçou a necessidade de pensarmos novas soluções que simplifiquem e ampliem o acesso deste público a serviços financeiros, afinal as PMEs exercem um papel fundamental na geração de empregos e na esperada recuperação econômica brasileira.
Como, afinal, as PMEs se beneficiarão com o Open Finance? Responder a esta pergunta será fundamental para o sucesso e adoção do modelo. Acredite, o potencial do Open Finance para ajudar este perfil de empresas a ampliar o acesso a crédito e financiamento (e de melhor qualidade), seja ao auxiliar que estas empresas administrem de forma mais efetiva seu fluxo de caixa, seja ao reduzir custos, simplificar pagamentos e o contas a pagar e receber, além de gerenciar os recebíveis e a operação financeira do dia-a-dia dessas empresas é enorme. Estamos apenas no início da jornada do Open Finance com esse público e o mercado já começou a perceber a se movimentar mais rapidamente.
Em 29/10/2021 iniciamos a fase 3 do Open Finance onde entra em campo a figura do iniciador de transações pagamentos (ITP). O ITP poderá iniciar transferências e pagamentos para os clientes, que agora terão acesso a mais opções e formas inovadoras para realizar pagamentos. Nesta primeira etapa será possível realizar transferências e pagamentos via PIX. Com o novo modelo, o cliente não precisará abrir o aplicativo da instituição que detém o dinheiro em conta de depósito, para iniciar um Pix, como acontece hoje. Ele poderá centralizar e iniciar todas as suas transações de pagamentos e transferências em um único canal, ou aplicativo de terceiro, de acordo com a sua escolha.
Este novo canal poderá ser um aplicativo de mensagens, uma fintech disponibilizando uma wallet ou carteira digital ou mesmo um aplicativo não-financeiro, como Rappi ou Uber. O banco e a instituição financeira também poderão exercer este papel, por exemplo, ao permitir que o cliente movimente dinheiro entre diferentes contas de depósito, em diferentes instituições financeiras, através de um único internet banking ou aplicativo da instituição.
Indo além, podemos afirmar que parte desta evolução e compreensão sobre o Open Finance deu-se também graças ao avanço do debate do Open Insurance (ou Sistema de Seguros Abertos), no momento em que conectamos Produtos de Seguros, Previdência complementar aberta e capitalização à iniciativa Open Finance. Espera-se que, com os avanços do Open Finance e dos modelos “Open”, consumidores que hoje têm pouco ou nenhum acesso aos produtos de seguros, ingressem neste mercado, tendo acesso a produtos mais personalizados e propiciando uma expansão significativa da base de clientes de seguros. Com isso, espera-se que seguradoras, insurtechs, corretoras e o próprios consumidores possam se beneficiar, através da ampliação no acesso à novos produtos de seguros, de novas coberturas e da proteção contras novos riscos.
Quando pensamos na distribuição de produtos de Seguros, no Brasil temos um forte relacionamento e envolvimento do Corretor de Seguros no processo de comercialização destes produtos. Como eles vão se conectar e participar desse novo modelo de Open Insurance e Open Finance? Este é um tipo de discussão interessante que estamos desenvolvendo e avançando hoje no Brasil.
Não podemos esquecer do Open Investment (ou abertura de dados de investimentos), que também faz parte da iniciativa inovadora do Open Finance no Brasil e reúne os produtos de investimentos, tais como ações, debêntures, CDBs, cotas de fundos de investimento, entre outros. As informações sobre investimentos serão um elemento adicional e muito valioso para conhecer o perfil financeiro dos clientes e fomentar o acesso a crédito e capital de giro, inclusive servindo como um importante instrumento de garantia.
Open Insurance e Open Investments se conectam ao Open Finance agora na Fase 4, para entregar a visão completa da vida financeira do consumidor. O novo ecossistema de serviços financeiros aberto, amplia pois seu papel, envolve novos reguladores e estimula o debate de novos modelos de negócios entre os diferentes atores. Entretanto, a capacidade de analisar, correlacionar e gerar insights e inteligência à partir do grande volume de dados e informações dos consumidores – e que agora aumentará ainda mais – será fundamental para oferecer produtos e serviços mais personalizados e adequados ao perfil e às necessidades individuais dos consumidores, engajá-los e alcançar o tão esperado sucesso da iniciativa Open Finance: o de prover maior competição, maior personalização e maior inclusão no acesso a serviços financeiros.
Devemos também estar preparados para o debate sobre o avanço das criptomoedas e sobre o estudo e implementação de uma futura moeda digital ou CBDC (ou Central Banks Digital Currency) brasileira, seus impactos e a convergência com o modelo Open Finance. E claro, não podemos esquecer da segurança. Evoluímos muito com o tema e precisamos avançar ainda mais com um modelo simples, seguro e padronizado de forma a permitir que todos os consumidores acessem os serviços digitais disponibilizados através do Open Finance. Ao mesmo tempo, temos que trabalhar para proteger as informações destes consumidores, garantir a privacidade dos dados, de acordo com a legislação vigente e com a lei geral de privacidade de dados (LGPD) e, claro, neutralizar o crescimento vertiginoso nos casos de vazamentos de dados e crimes financeiros e cibernéticos que enfrentamos nos últimos anos no Brasil.
O Open Finance avança no Brasil, se transforma e promote revolucionar a forma como os consumidores consomem serviços financeiros e se relacionam com as instituições financeiras e participantes do nosso vibrante ecossistema financeiro brasileiro.
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